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Droga é caso de saúde pública e não apenas de polícia

Na última sexta-feira, 28/10, acompanhei os trabalhos do VI Simpósio de Alcoologia e Outras Drogas, promovido anualmente pela Vila Serena Bahia, uma instituição privada que trata de dependências: químicas ou não. É um tema muito interessante até porque diz respeito a cada um de nós, mesmo para aqueles que não sofrem por ter um adicto na família. Um dos palestrantes que mais me chamou atenção, pela manhã, foi o psiquiatra colombiano Ricardo Restrepo, residente há 17 anos nos Estados Unidos e diretor da clínica de psicofarmacologia e adicção do Instituto de Adicção de Nova York (EUA).

Ele disse, com a autoridade de especialista que é, o que eu já comentei no Forquilha em relação à políticas governamentais no Brasil e Bahia para esta área: " É preciso que a dependência de droga seja tratada como uma questão de saúde pública e que o tratamento seja de forma integrada entre as diversas especialidades, porque os riscos são clínicos e psicológicos."

Como estava contribuindo com a Vila Serena na divulgação do evento, pude conversar bastante com o simpático Restrepo. E aí ele me explicou porque a dependência química tem que ser tratada como saúde pública de forma integral: quem usa drogas, lícitas ou não, pode desenvolver aids, tuberculose, infecção pulmonar e problemas cardiovasculares, além de transtornos mentais.A sua estimativa é que cerca de 30 a 40% das pessoas que usam alguma substância psicotrópica acabam desenvolvendo enfermidade mental.


Dr. Ricardo Restrepo e eu, no VI Simpósio de Alcoologia e Outras Drogas.
 E aí temos dois problemas, comuns, segundo Ricardo Restrepo, a todos os países, não só os latinoamericanos: falta de capacidade de profissionais de saúde pública que lidam com adicto, que não sabem dar o diagnóstico correto, e a falta de vontade política dos governantes em tratar a questão como caso de saúde pública. Ele me garantiu que poucos profissionais, atualmente, estão habilitados para identificar enfermidades mentais em dependentes químicos.

Com este quadro, Ricardo Restrepo defende que escolas de Medicina tornem obrigatório, na graduação, o ensino de disciplinas sobre enfermidades mentais e uso de substâncias que causam dependência, até como forma de acabar com o estigma em relação a transtornos mentais.

Quanto a termos êxito nessa árdua luta para salvar nossos jovens das drogas, na opinião de Restrepo isso é possível, desde que os governantes se conscientizem que investir apenas em programas policiais ou judiciais não adianta. “É preciso ter disposição política para investir mais em saúde pública,” alerta. Eu confabulei com vocês sobre isso no post  Combate às drogas  .

Quanto tempo mais teremos para cuidar disso com seriedade? Se você tem alguma dependência, qual sua opinião? Gostaria de saber também o que pensa se vc é da área de saúde pública.



A equipe da Vila Serena Bahia, organizadora do Simpósio, com Ricardo Restrepo.
Da esquerda pra direita: Priscila Brito,  Júlia Damiana e Moema Raquelo


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