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Quantas moradas tem o seu afeto?


Onde é o seu lugar, o seu lar? Temos um único lar, uma única família ou, como diz na Bíblia sobre a "Casa do Pai", também podemos ter muitas moradas? Acredito nas muitas moradas de Deus e na possibilidade de muitas moradas nossas, nas devidas proporções, claro!

Comecei a refletir sobre isso ao acordar hoje, dia em que completo 32 anos que cheguei a Salvador, e resolvi confabular com vocês.

Minha morada inicial nesta encarnação é Paulo Afonso - BA. Ali fui recebida por meus pais, Nilton e Nicinha, e por cinco irmãos (três meninas e dois meninos); também por meus avós maternos, Zezinho e Minice, e por tias, tios, primas e primos. Depois recebi com minha família outras cinco irmãs.  E depois mais cinco irmãs e um irmão, trazidos só por meu pai, em nova união. Meu coração aprendeu a amar ali. 

Muitos dos que alimentaram este coração já retornaram ao lar espiritual: meus avós, tias e tios. Do lado materno só Manezinho prossegue conosco nesta caminhada. Papai e mamãe, meus queridos, também já retornaram. Alguns primos também. Do lado paterno não tive a mesma vivência, mas não havia menos amor. Vovô João e vovó Floriza, muitos tios e primos queridos já estão do outro lado do caminho. 

Nesta morada criei os primeiros laços de amizade: na rua L, nas escolas da CHESF e na cidade, anos depois, quando voltei como jornalista profissional e integrei a equipe do então prefeito José Ivaldo. Isso sem contar os laços fortíssimos de amor com meus irmãos e irmãs, também meus amigos. 

Querer alcançar um sonho - o de ser jornalista -, conduziu meus passos para uma nova morada aos 17 anos e meio: Recife-PE. A saudade e o amor da primeira morada, que ficou distante cerca de 450 km, chegava a doer no peito. Mas não impediu de criar novos laços de amor, traduzidos em amizades, no Colégio Boa Vista, na Universidade Católica de Pernambuco, nas Rádios Globo Recife e Jornal do Commércio, e na rua Visconde de Goiana, onde vivia. Ali alimentei essa morada de amor, presencialmente, por quase seis anos. 

Entre 1986 e 1987 tive uma nova morada:  Teixeira de Freitas - BA. O trabalho na Rádio Alvorada me deu de presente mais uma família, a Astori-Guimarães, de Nini e Milton, e amigos da profissão. A saudade dos primeiros laços era maior ainda. Estava distante 1.091 km de casa, sem a companhia de nenhum irmão.

3 de maio de 1989. Ali começou a construção de mais uma morada, desta vez em Salvador, distante 465 km da minha terra natal. Esta caminhada foi viabilizada por José Ivaldo (aquele que assessorei em Paulo Afonso) e Emiliano José, jornalista e deputado estadual constituinte. 

Esta é a mais longa morada em permanência física. Nela reencontrei o amor que conheci na primeira família - Roberto. Nela me fortaleci profissionalmente e amadureci como pessoa. 

Do reencontro ganhei meu filho Acácio. Primeiro como madrasta; depois como mãe socioafetiva, com direito ao nome na certidão de nascimento. E tive a benção de ser avó de Leon, trazido por Acácio e Bruna. Também ganhei mais uma família - Araújo, tão grande como a primeira, a Amorim.

Na profissão foram muitas experiências, sendo a com a Defensoria Pública a que mais me cativou, por sua missão de assegurar o acesso a justiça a pessoas que nem sabem que têm este direito. Mas também foi importante a vivência gerada pela assessoria e amizade de Zezito Pena, durante 10 anos da sua vida política. Primeiro como deputado estadual e depois como prefeito de São Sebastião do Passé.  Nesta cidade não morei. Eu ia e vinha. Zezito já retornou ao plano espiritual, mas a morada do meu coração recebeu novos laços de amor, ali em São Sebastião.

Ao completar 32 anos desta morada física na capital baiana, consolido em mim a certeza de que o nosso coração pode ter várias moradas. Continuo com laços afetivos sólidos em cada uma dessas cinco moradas. Laços de amor e de amizade sinceros não se desamarram facilmente. Nem quero que soltem. São amarras afetivas que me fazem bem. 

Os 16 irmãos da primeira morada multiplicaram o núcleo de amor, que se estende por Pernambuco, Alagoas e São Paulo, com ramificações por meio de 28 sobrinhos e 16 sobrinhos-netos. Assim como os amigos, não os vejo sempre, mas quando os encontro é como se o tempo não tivesse passado e viraria a noite inteira conversando e rindo.

Na nossa primeira conversa neste dia 3, ainda na cama, Roberto, o amor que reencontrei, me disse que vim para Salvador conduzida por meu coração que, escondido da minha razão, quase inconsciente, ainda o amava mesmo depois de 10 anos distante. Não tinha planejado retomar uma história de amor. Mas ganhei de presente esta oportunidade e a alimento todos os dias. 

Confirmo, então, o que li em livros de parábolas: que encontramos no caminho o que trazemos no coração. Parece piegas, mas procuro trazer sempre amor, disposição para a amizade, para um sorriso, um abraço ou um bom dia.

Mas, e você? Quantas moradas de amor e amizade ergueu ao longo da sua caminhada? Deixa aqui seus comentários. Um abraço




Comentários

  1. Belíssimo e emocionante texto, minha amiga muito querida!!!

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  2. Glaide, querida. Obrigada por acolher o convite. Você faz parte dos meus afetos iniciados na primeira morada. Um grande abraço.

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  3. Descreveu lindamente sua trajetória Vanda!!amei seu texto.bjs

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    1. Oh!, que pena! não ficou registrado quem é você. Muito obrigada, de qualquer forma, por ter acolhido o convite. Se passar de novo, coloca seu nome e diz quantas moradas tem seu afeto.

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  4. Saber de sua trajetória é um privilégio.

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  5. Saber de sua trajetória é um privilégio.

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  6. Saber de sua trajetória é um privilégio.

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  7. Que linda sua trajetória prima, muitos encontros e amigos eternos você ganhou. Parabéns pela sabedoria de saber aproveitar cada morada!

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    1. Obrigada, prima. Mas, diz aí sobre as miradas dos seus afetos

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  8. Amei o texto!!! Parabéns!!! Quanto as minhas moradas, seu texto me proporcionou várias reflexões!!! Mas posso assegurar que foram muitas! Vou refletir mais sobre elas! Obrigada por essa provocação tão significativa!

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    1. Obrigada. Que bom que pude contribuir para sya reflexao.

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  9. Que texto lindo!!! Intenso e afetuoso como você, Vanda! Que bom que em cada morada você pôde ser o que és: AMOR. Você sempre fará morada no meu coração. Espero um dia te ver de novo, chefa!! Beijo grande! ❤️✨

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  10. O registro das 18:54, foi de Nailza, rsrs. E como falaram anteriormente, vc lindamente nos induziu à reflexões...

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