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A demissão de Aguirre Peixoto e a liberdade de imprensa

Será mesmo que cada jornalista acredita que há liberdade de imprensa, seja no Brasil ou em qualquer outro país? Falo de jornais, TVs, revistas, rádios (não comunitárias). Não falo da imprensa feita por blogueiros em todos os cantos do mundo, muitos escondidos pelo anonimato.

Desde os tempos da faculdade, quando fui dirigente do diretório acadêmico de Jornalismo na Unicap, em Recife, tinha minhas dúvidas. Mas o romantismo que marca a maioria de nós que abraça essa carreira me deixava uma esperança de essa liberdade se concretizar um dia.

Aguirre: demissão coloca liberdade de imprensa na berlnda
A demissão nesta semana do jornalista Aguirre Peixoto, repórter do jornal A Tarde, em Salvador, é uma mostra que o que existe, sim, é a vontade do patrão. Até este, aliás, tem uma liberdade de fio curto, que pode ser puxado  a qualquer momento pelos patrocinadores. Falei sobre isso, inclusive, aqui o Forquilha, em 2007 (liberdade de imprensa existe).  


Entre 2005 e 2007 esses mesmos patrões, muitos colunistas e colaboradores, e até alguns colegas jornalistas, se posicionaram contra a criação do Conselho de Jornalismo (de Jornalistas), argumentando que o então presidente Lula queria cercear a liberdade de imprensa, a liberdade de expressão. Qual o quê? Se existia mesmo a liberdade de imprensa, porque a grande mídia nunca deu espaço para que a Fenaj ou qualquer um a favor,  se pronunciasse sobre a proposta? Afinal, buscávamos ( e tenho esperança de que ele ainda se concretize) um conselho funcional, não um conselho estatal de comunicação, como os conselhos existentes de Meio Ambiente, Educação, etc. Queremos um conselho como os tem os médicos, os engenheiros, os relações públicas e até os corretores de imóveis. Somos trabalhadores, sim!

Eugênio Bucci,  jornalista, advogado e doutor em Ciências da Comunicação pela USP, disse em artigo no Observatório da Imprensa, também em 2007, que "para o jornalista, exercer a liberdade é um dever porque, para o cidadão, ela é um direito. Para que este possa contar com o respeito cotidiano ao seu direito à informação, o jornalista não pode abrir mão do dever da liberdade".   E aí eu pergunto: para que o cidadão tenha acesso ao fruto da liberdade exercida pelo jornalista, não é imprenscidível que o canal onde será veiculado também exerça a liberdade? E como fazer se os "donos" da comunicação dependem do dinheiro dos seus anunciantes e, por tal, tolhem o direito da liberdade do cidadão e o dever da liberdade do jornalista?

Sempre defendi o direito a essa liberdade. Quando nas redações ou emissoras de rádio onde trabalhei, sempre entreguei minhas matérias como achava que tinham que ser feitas a partir do que havia apurado, sempre ouvindo os dois lados.  Sempre critiquei colegas que faziam autocensura com a justificativa de que o jornal não publicaria. Essa atribuição não era minha. Era dos editores. É.

O caso da demissão do jornalista Aguirre não é apenas uma injustiça com um profissional que exerceu o seu dever de liberdade de imprensa. É mais um fato para que a categoria reflita sobre o rumo que segue a nossa carreira.

Você pode conferir o histórico do caso da demissão de Aguirre Peixoto na cobertura do site Teia de Notícias, que tem à frente as colegas Neire Matos e Angélica Parras e o colega Gusmão Neto: 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7.

Comentários

  1. É triste chegar a essa conclusão, mas aqui nesse país tupiniquim a liberdade "existe" até a página 2. Ainda vivemos num tempo emque o "cabresto" impera. Se os meios de comuniocaçãonão se vendessem é bem provável que os tempos de ditadura voltariam, afinal a informação forma o cidadão. Mas que governo quer, realmente, um povo beeeeeemmmmm informado?

    Parabéns pelo alerta.

    Bjs,

    Duh

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