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Hipertensão - um ônus que me permiti


Uma das frases que mais costumo falar é que tudo que nos acontece é porque permitimos. E que temos que arcar com os ônus e com os bônus dessas permissões. Quero, então, falar com vocês sobre o ônus que gerei para mim ao me permitir ser absorvida completamente por um projeto profissional.

Em 2007 fui convidada a compor a equipe de trabalho da defensora geral recém eleita na Bahia, Tereza Cristina Ferreira. Ela tinha (tem, porque está no seu segundo mandato) um projeto lindo para essa instituição que, de fato, é essencial para garantir o acesso à Justiça. E queria minha colaboração na Assessoria de Comunicação Social, especialmente na implantação de um programa de Comunicação Interna. Formei equipe com a também jornalista Carla Ferreira e começamos a tocar o trabalho.

A Defensoria Pública da Bahia cresceu rapidamente em estrutura. Praticamente dobrou o número de defensores logo no primeiro ano de gestão de Tereza Cristina. E a Ascom também cresceu, com permissão da defensora geral. Passamos de um estagiário de Jornalismo para três (sendo um para atendimento da Escola Superior) e ganhamos um assistente administrativo. Carla Ferreira foi tocar sua vida de empresária na Cannal Assessoria em 2008, sendo substituída por Jamile Menezes. O crescimento da Ascom prosseguiu com uma estagiária de designer gráfico; remanejamos para a equipe uma profissional de Relações Públicas para cuidar da Comunicação Interna e consolidamos a agregação do Cerimonial ao setor. Com esta nova estrutura, assumi a coordenação da Ascom.

Apesar de nossa equipe ter crescido, o ritmo de trabalho ficou cada vez mais acelerado. Muitas reuniões, muitas ações na Capital e no Interior. A Defensoria está presente em 33 municípios (comarcas). E aí entra a minha permissão.

Apesar de também fazer assessoria de imprensa de parlamentar, passei a me dedicar muito à Defensoria. Eu acordava pensando em estratégias e nas demandas e pendências. No gabinete do parlamentar, dividia o tempo, monitorando a equipe através do bate-papo do e-mail institucional. Passei a sair cada vez mais tarde. Antes era 19 horas. Depois foi 20 horas, 21, até sair em alguns dias por volta da meia-noite. Para não deixar pendências no outro trabalho, passei a ir mais cedo para o gabinete. E minha caminhada matinal foi excluída da agenda.

A minha vida pessoal passou a ficar em último plano. Logo eu, que sempre valorizei tanto a família. Por sorte tenho um marido companheiro, compreensivo, paciente. Mas que já começava a reclamar por eu trabalhar tanto. Não ter podido dar atenção à minha mãe por dois dezembros seguidos - quando ela vem para Salvador - e às minhas irmãs que moram em São Paulo e vieram em férias me angustiou. Nem mesmo tempo para cuidar do Forquilha eu tinha.

Na dia da abertura do Carnaval, onde a Defensoria estaria de plantão, tive um pico de pressão de 190 x 130. Apesar de assustada, fui negligente e não procurei assistência. No dia seguinte, na minha folga, a pressão voltou a subir e fui levada por meu marido para uma emergência. Ainda assim trabalhei no Carnaval. Passado o plantão, caí na real e decidi renunciar ao projeto de contribuir para o fortalecimento da Defensoria com seu público interno e externo. Pedi exoneração.

O ônus que me permiti foi a hipertensão. Só aí comecei a cuidar de mim. O cardiologista me confirmou hipertensa. Fui ao oftalmologista (retinólogo) para verificar se minha retina sofrera algum dano, como ocorreu com meu pai, que teve oclusão (trombose nos vasos da retina) e está praticamente cego - recebi o diagnóstico de retinopatia hipertensiva nível II. Esqueci de perguntar quantos são os níveis. De qualquer forma, passou do I. E logo mais terei avaliação de um neurologista.

Foi o trabalho que fez isso comigo? Não. Fui eu mesma. Sempre cobrei de todos da família para que se cuidassem. Mas negligenciei da minha própria vida. Nem mesmo ao Instituto Espírita Boa Nova, onde trabalho, estava indo.

Renunciar a uma receita não é fácil. Mas o fiz e ganhei em qualidade de vida. Agora retomo projetos pessoais; reassumi o comando da minha casa, antes entregue à empregada e tenho mais tempo para retribuir o amor daqueles que sempre olharam e esperaram por mim. Também retomei as caminhadas diárias e estou muito bem. Esse é o bônus da minha última pemissão. Ainda não retomei os trabalho no Boa Nova. O farei em breve.

E você, tem noção dos ônus e bônus que as suas permissões lhe trazem ou trarão? Venha confabular comigo.

Comentários

  1. Vandinha (ainda posso chamar assim?) soube que tinha pedido exoneração, mas não sabia que tinha sido dessa forma e qua sua saúde tenha gritado limites. Mas vc fez bem, sua saúde e sua família devem vir em primeiro lugar sempre. Esses são bônus que conseguimos gratuitamente e não acredito que valham a pena trocar por outros. Já passei por situação semelhante onde o stress estava falando mais alto que eu, e nao é nada fácil. Sorte e sucesso nessa sua nova jornada da sua vida e que bom que tem uma família maravilhosa. Vc é brilhante e morro de saudade sempre. Bjokas! Deise

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  2. Saudade de vc também. Fiz uma visita no Alma Pelada mas nem pude deixar rastro. Porque vc não abre para comentários moderados? Tem muita coisa boa lá, que eu vi.

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