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Sou mulher e não gosto de apanhar


Conte 7 segundos. Contou? Nesse momento uma mulher pelo menos foi vítima de um tapa por aquele que deveria lhe dar carinho.

Conte agora 8 segundos. Pronto? Uma mulher pelo menos acabou de ser queimada por seu cônjuge e uma foi ameaçada de espancamento.

Conte de novo; agora por 15 segundos. Tempo fechado: uma mulher está sendo impedida de sair de casa nesse momento e outra foi espancada.

Mais uma vez; agora conte 20 segundos. Nesse intervalo uma mulher foi ameaçada de levar um tiro por um namorado, marido, companheiro, amante ou ex tudo isso.

Esse relógio macabro foi apresentado hoje no final da manhã por Stela Taquele, que representou a ministra Nilcéia Freire, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, na Audiência Pública realizada pela Comissão Especial dos Direitos da Mulher, na Assembléia Legislativa da Bahia. No Brasil, 43% das mulheres já sofreu algum tipo de violência doméstica e familiar.

Tem juiz, por aí, dizendo que mulher gosta de apanhar. Outro diz que o homem é superior e, portanto, pode submeter sua "fêmea" ao que quiser. Que mulher que apanha e não separa é porque gosta de apanhar mesmo.

Agora vamos confabular sobre isso. Tenho consciência que o buraco é mais embaixo. Que a grande maioria das mulheres se submete por um medo maior: seja o de ser assassinada por aquele por quem julgou ser amada algum dia; seja o de recomeçar a vida; seja o de não ter como sobreviver e fazer sobreviver os filho; seja por.... seja por.... são tantos os outros motivos, né mesmo?

Mas creio que é importante que nós, mulheres, acordemos para um fato: esses homens violentos, mau amantes e que se acham donos das suas mulheres foram criados por nós. Durante uma entrevista que fiz em 1996 para o jornal Tribuna da Bahia com Ana Montenegro - advogada, feminista e militante política falecida aos 90 anos, em março de 2006 -, ela me disse que o machismo nunca acabaria, porque a mulher-mãe, em sua maioria, é machista. Concordei com ela e continuo concordando.

Outra coisa: não apenas nós, mulheres, mas também os homens, precisamos acabar com a idéia de que amar é anular-se, é tornar-se um só. Amar é, antes de tudo, amar a si mesmo e depois aos outros. É ter auto-estima suficiente para acreditar na sua capacidade de viver só - se preciso for -, de evoluir intelectualmente, moralmente e espiritualmente. É ter certeza de que tem o direito de ser respeitada; tudo o que nos fazem foi permitido por nós em algum momento. Tá na hora de parar de achar que ciúme é prova de amor. Que violência ocasional pode temperar o tesão. Tá na hora de entender que exigir respeito e preservar a sua individualidade não é egoísmo, não é amar menos.

Não deixe, mulher, acontecer a primeira ameaça, nem o primeiro tapa. Não faça, homem, a primeira ameaça nem dê o primeiro tapa. Enquanto essa transformação não acontece, que a Lei Maria da Penha seja efetivada, já!! É uma grande ajuda para as vítimas e para tentar tratar a violência do agressor.


E a sua opinião, qual é?

Comentários

  1. legal sua consciência
    acredito que a maior participação da mulher na sociedade, se por um lado evidenciou a violênia doméstica por ela sofrida,em contrapartida a submeteu à crescente insegurança que permeia todo o tecido social
    abs
    af

    ResponderExcluir
  2. Mais um tipo de violência, entre as incontáveis perpetradas contra a humanidade. Tudo parece confluir para a educação, tanto doméstica (tão combalida!) quanto a formal, na escola, onde é preciso um clima de respeito, até para a desprogramação das mães machistas, das mães que virão. A coisa passa por aspectos religiosos e tradicionais, também. Embora Maomé seja conhecido pelo cuidado que tinha para com suas esposas, alguns dos que o seguem vivem inseridos em culturas onde a mulher é pouco mais que um objeto. No mundo cristão, a coisa segue mais ou menos o mesmo perfil. Aos poucos, no entanto, está havendo uma conscientização. Não acredito que jamais acabe... mas pelo menos haverá uma diminuição e isso já é uma vitória.

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