Dias deste precisei viajar para Itabuna a trabalho e um amigo e sua esposa me convidaram para um jantar em sua casa. Além de prazer de revê-los, tive a oportunidade de conhecer pessoas novas e conversar sobre temas nem tão novos assim. No grupo dos homens, discutimos política. Com as mulheres, papos diversos sobre trabalho, amor, comportamento e sentimentos. E uma das conversas rendeu bastante. Falamos sobre a capacidade de identificarmos sentimentos, pensamentos e reações que não são nossas.
Como assim?!, você pode estar se perguntando. Tudo o que sentimos, pensamos e fazemos não vem de nós mesmos? Sim e não.
No grupo estava uma psicóloga apaixonada pelo estudo da mente de pessoas infratoras. Disse ela que tenta entender o que os leva a cometer um delito, um crime. E acabamos por falar das influências externas e, até, invisíveis.
Contei-lhes sobre minha mãe, que tem 77 anos e por muitos anos dependeu de remédios para dormir, até que se determinou que não queria mais viver assim. Já tem mais de 20 anos que ela saiu dessa dependência, mas volta e meia surge um quê de tristeza, talvez sinal de depressão, em seus olhos pretos e pequenos. Sempre em dezembro, mês em que aniversaria, ela vem a Salvador para festejar o seu aniversário e o Natal comigo e mais duas filhas que moram aqui. Sempre fico atenta aos sinais do seu corpo para tentar ajudá-la.
Quando chego do trabalho, à noite, ela está sentada no sofá, assistindo a alguma novela ou missa. Quando está bem, levanta-se e vem ao meu encontro na varanda para receber o meu abraço de caranguejo. Quando algo não vai bem, permanece sentada com uma sombra a diminuir ainda mais os seus olhos. Certa noite isso aconteceu. Entrei em casa, larguei a bolsa, puxei-a pela mão e lhe dei um beijo em cada olho perguntando o porque da tristeza. Ela me respondeu que não sabia. Convidei-a, então para fazer um inventário.
Era assim o inventário:
Quantos filhos a senhora tem? Onze.
Algum morreu? Não
Afora o alcoolismo de um, algum é vítima de doença grave? Não
A senhora tem doenças crônica como diabetes. Perdeu alguma parte do corpo ou visão? Não
Tem onde morar? Sim
Tem o que comer? Sim
Pode viajar pra ver os filhos? Sim
A saudade que tem dos seus pais que se foram está doída? Não
A saudade do marido bateu forte? Não
Essa tristeza é sua? Acho que não.
Continuei contando às pessoas no jantar como orientei mamãe.
Lembrei a ela de um momento difícil, onde duas vizinhas agiram de forma diferente. Uma, pediu-lhe calma e serenidade. Outra, estimulou a discórdia com o marido por causa de uma traição. Disse-lhe que do mesmo jeito pode acontecer no invisível. Um espírito pode ser atraído por uma pequena faísca de sentimento negativo - raiva, tristeza....- e colar conosco, estimulando nosso pensamento. Talvez, quem sabe, uma mulher que tenha tido muitos filhos como a senhora e morreu sozinha. Sentiu sua saudade dos filhos espalhados por Paulo Afonso (BA), Piranhas (AL), Recife (PE), São Paulo (SP) e Salvador (BA) e quis lhe fazer companhia. "Será?" . Faça o seguinte: mentalmente agradeça a solidariedade desse espírito, mas diga que ele não pode ficar assim, porque temos os filhos para o mundo. Diga pra que deixe a mágoa e a tristeza de lado, que perdoe e siga adiante para encontrar a paz. E todas as vezes que a senhora sentir isso, faça a mesma coisa.
Minha mãe voltou para Paulo Afonso e, meses depois, ao nos falarmos por telefone (conversamos todos os dias) ela me disse:
"Acho que meus amiguinhos invisíveis estavam querendo ficar junto de mim de novo"
Foi? A senhora sentiu o quê?
" Uma tristeza como naquele dia em que estava na sua casa"
E o que fez?
" Disse que não tinha motivos pra estar triste e que eles seguissem em paz"
E passou a tristeza? Sorrindo, ela disse que sim.
Lembro que Newton Simões, que coordenou o Centro Espírita Boa Nova até o seu desencarne, falava que a obsessão é mais comum do que pensamos. Não falo aqui da obsessão demonstrada por pessoas que querem algo a qualquer custo e não sossegam. Falo da obsessão espiritual. Aquela que faz, como fez com mamãe, a gente sentir um sentimento que surge do nada. Pode ser uma tristeza, uma raiva, um desejo exacerbado por sexo, ou por álcool ou drogas. Newton dizia que, quando paramos e nos conhecemos, conseguimos identificar se esses sentimentos são nossos ou não.
Segundo artigo de Marcos Paterra, diretor científico da Associação Médico-Espírita de Pernambuco, " Para evitar e/ ou afastar os obsessores é necessário, acima de tudo, autoconhecimento e reforma íntima.
Na semana seguinte, já em Salvador, encontrei a psicóloga que estava no jantar. Ela me disse que a conversa a fez refletir e a se auto-observar; que conseguiu identificar sentimentos que não eram delas. Fiquei feliz, principalmente porque a maioria de nós não consegue. Não conseguimos vigiar nossos pensamentos, sentimentos e ações. Tampouco orar quando a influência espiritual nos leva a doenças psicossomáticas.
Você consegue identificar sentimentos e pensamentos que não são seus? Tente e pode dizer: esse sentimento/pensamento não me pertence.
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