Educação dos filhos é sempre tema polêmico e dar palpite
entre amigos pode gerar alguns atritos. Uma das questões que surgem com alguma
frequência é se os filhos têm ou não que dar contrapartida aos pais; se têm ou
não obrigação de assumir tarefas ou outras responsabilidades na casa dos pais
enquanto vivem ali.
Na adolescência de meus 10 irmãos e minha tínhamos tarefas a
fazer em casa. Aliás, nós filhas tínhamos. Aos dois filhos as tarefas eram
ocasionais. Entre as meninas uma lavava os pratos do almoço e outra enxugava,
enquanto outra lavava as tantas panela que mamãe usava para cozinhar. Mais uma
varria metade da casa (varanda, que chamávamos de área, sala e três quartos),
enquanto outra arrumava o restante (copa, cozinha e mais um quarto). Ainda
tinha a que lavava o banheiro. À noite tinha mais rodízio para lavar e enxugar os
pratos do jantar.
As filhas mais velhas ajudavam a cuidar dos mais novos. Isso
mesmo quando tínhamos empregada doméstica. Confesso que eu tinha uma preguiça
danada de lavar pratos, mas adorava arrumar a casa. Isso significava "faxinar"
todas as gavetas e passar cera e enceradeira no chão de piso vermelho. Se a
enceradeira queimasse, tínhamos que dar o brilho com um pano, esfregando-o no
chão com as mãos ou os pés. Ou ainda com um esfregão. Essas tarefas eram
contrapartidas e ainda nos preparava para a vida, para vivermos sem depender de
ninguém.
Tem também a contrapartida financeira, com os filhos
contribuindo com uma parte dos seus salários para as despesas da casa,
principalmente se ainda vivem com os pais depois de adultos. Roberto, meu
marido, diz que na família dele todos davam uma parte do salário para a mãe.
Caso “esquecessem”, a mãe cobrava. Exigência parecida faz uma das minhas irmãs
com suas filhas, embora apenas uma ainda more com ela e o marido.
A minha contrapartida financeira inicial foi trabalhar para pagar a
faculdade. Meu pai pagava as despesas com moradia e alimentação. Pagaria também
a faculdade, mas meu senso de independência e meu orgulho o dispensaram dessa
despesa. Tem também quem dê
contrapartida financeira voluntariamente mesmo depois
de ter saído da casa dos seus pais. É o seu caso? Parabéns! A vida inteira eles fazem por
nós.
Mas o mundo mudou e parece ter crescido o número de pais –
mães, principalmente – que acham que nada devem cobrar dos seus filhos. Nem na
divisão de tarefas domésticas, nem – e bote NEM nisso – com contrapartida
financeira.
Ouvi, certa vez, de uma amiga que tem dois filhos e uma
filha, que ela nunca exigiu nada dos filhos por achar que eles não têm
obrigação de fazer nada, porque a casa não é deles. Como não, se dormem,
comem, recebem roupas e acessórios, escola paga, e, se o imóvel for da família,
serão herdeiros quando da passagem dos pais para o plano espiritual?
Também ouvi de um amigo, que tem a mesma quantidade de
filhos e na mesma configuração, que filhos não têm que dar contrapartida
nenhuma. Tem que estudar e trabalhar para construírem as suas vidas. Concordo
parcialmente. Como filhos, temos que estudar e trabalhar para construir um
futuro equilibrado. Mas isso não impede a contrapartida em tarefas e
financeiramente.
Em minha opinião, a contrapartida simboliza gratidão e
solidariedade. A gratidão, por tudo o que recebe, mesmo que não seja na
quantidade e qualidade que gostaria de ter. Isso dependerá da condição social
dos pais. A solidariedade, porque se cada um na família assumir uma tarefa –
principalmente se não tiver empregada doméstica – sobrará mais tempo para que
todos tenham, pelo menos, uns minutinhos juntos em família.
Contrapartida no
lar amadurece e dá responsabilidade; quando dada voluntariamente ou sem
reclamar quando convocados, demonstra amor pelos pais ou por quem divide o
lugar onde moram.
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