Em nossas andanças pelos países vizinhos vivi duas situações interessantes que nos fez refletir sobre o Brasil e que tem tudo a ver com os gritos de protesto das infinitas manifestações.
Em outubro de 2008 andamos pela Venezuela, onde o povo se dividia entre o endeusamento de Hugo Chaves e a sua execração. Passamos dois dias em Coro, uma das cidades mais antigas do país e reconhecida como Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO desde 1993. Também conhecida por Santa Ana de Coro, é a capital do estado de Falcón e do município Miranda. Mas não quero falar de geografia. O fiz apenas para lhe situar. Em Coro, ficamos na pousada Tum Tum, que nos foi indicada por uma pessoa em Mérida, e que estava em transição de gestão. A dona, Angélica ( belga), tinha acabado de vender para o casal Damien (francês) e Norka (Venezuelana).
Na primeira manhã Roberto perguntou se tinha cerveja. Sim. Long neck. Pediu duas. A belga disse que pegasse no frezer que estava no salão da recepção (que ficava no fundo, próximo ao pátio). Ao tirar a carteira para pagar, a surpresa. Anote aí no quadro cada vez que pegar uma; quando fechar a conta da pousada você paga tudo. A gente mesmo anota? Sim. Olhamos e vimos um quadro de pouco mais de um metro, onde já tinha alguns nomes escritos e ao lado uns tracinhos. Isso funciona? Sim, respondeu a moça sorrindo. Nos entreolhamos e sorrimos.
Em outubro de 2009 quando nossas mochilas circulavam por Copacabana - não a brasileira/carioca, mas a boliviana -, nos surpreendemos com o respeito e a tranquilidade dos nativos e dos turistas que passavam por ali. Em uma das ruas que leva às margens do Lago Titicaca, onde se concentram restaurantes e lojinhas de artesanato, uma das lojas nos chamou a atenção. Aberta, mas sem ninguém. Um cabo de vassoura sobre duas cadeiras na entrada impedia o acesso das pessoas. Perguntamos aos vizinhos pelo vendedor e nos disseram que ele precisou sair (ao banheiro, se não me engano). Disse que era comum isso por ali. E ninguém entra ou rouba? Não.
A reflexão que fizemos nesses dois casos é bastante apropriada para este momento em que tantos tem ido às ruas clamar pelo fim da corrupção no Brasil. Não pude parar de pensar em como a corrupção está inserida no cotidiano de cada cidadão sem que ele perceba; muitas vezes praticada por ele mesmo sem que se dê conta de que o que faz não é honesto, não é legal. não é moral.
Nos últimos dias talvez as pessoas que me acompanham nas redes sociais e/ou estão ao meu lado tenham me achado intransigente, intolerante e sem esperança. De fato, tenho reclamado muito do "estouro da boiada", com as pessoas gritando palavras de ordem soltas e impostas, sutil e subliminarmente, por grupos que querem apoio para alcançar seus próprios interesses. Mas eu sou dura na queda. Acredito na capacidade do ser humano de escolher o caminho certo. Pode demorar mais pra uns que pra outros, claro!
As duas situações que vivi nas minhas andanças como mochileira coroa são fáceis de encontrar no Brasil? Certamente muitos dos que cobram o fim da corrupção diriam que quem não aproveitasse para beber sem pagar em Coro ou não aproveitasse para "pegar" algo da loja em Copacabana seria otário. Certamente completaria com um "quem manda eles serem vacilões?". Essa, lamentavelmente, é a nossa realidade.
Então, vamos cobrar o fim da corrupção sim! Mas vamos refletir sobre nossos atos cotidianos e mudar urgentemente se acharmos que quem é honesto e vacilão é quem confia na honestidade do próximo. A corrupção não está apenas na política. Na moral: são os vacilões e os otários dessas duas estórias que tem direito legítimo de dizer não à corrupção.
E você, de que lado está?
Equipe da Tum Tum surpreende com confiança |
Na primeira manhã Roberto perguntou se tinha cerveja. Sim. Long neck. Pediu duas. A belga disse que pegasse no frezer que estava no salão da recepção (que ficava no fundo, próximo ao pátio). Ao tirar a carteira para pagar, a surpresa. Anote aí no quadro cada vez que pegar uma; quando fechar a conta da pousada você paga tudo. A gente mesmo anota? Sim. Olhamos e vimos um quadro de pouco mais de um metro, onde já tinha alguns nomes escritos e ao lado uns tracinhos. Isso funciona? Sim, respondeu a moça sorrindo. Nos entreolhamos e sorrimos.
Em Copacabana, Bolívia, crença na honestidade |
A reflexão que fizemos nesses dois casos é bastante apropriada para este momento em que tantos tem ido às ruas clamar pelo fim da corrupção no Brasil. Não pude parar de pensar em como a corrupção está inserida no cotidiano de cada cidadão sem que ele perceba; muitas vezes praticada por ele mesmo sem que se dê conta de que o que faz não é honesto, não é legal. não é moral.
Nos últimos dias talvez as pessoas que me acompanham nas redes sociais e/ou estão ao meu lado tenham me achado intransigente, intolerante e sem esperança. De fato, tenho reclamado muito do "estouro da boiada", com as pessoas gritando palavras de ordem soltas e impostas, sutil e subliminarmente, por grupos que querem apoio para alcançar seus próprios interesses. Mas eu sou dura na queda. Acredito na capacidade do ser humano de escolher o caminho certo. Pode demorar mais pra uns que pra outros, claro!
As duas situações que vivi nas minhas andanças como mochileira coroa são fáceis de encontrar no Brasil? Certamente muitos dos que cobram o fim da corrupção diriam que quem não aproveitasse para beber sem pagar em Coro ou não aproveitasse para "pegar" algo da loja em Copacabana seria otário. Certamente completaria com um "quem manda eles serem vacilões?". Essa, lamentavelmente, é a nossa realidade.
Então, vamos cobrar o fim da corrupção sim! Mas vamos refletir sobre nossos atos cotidianos e mudar urgentemente se acharmos que quem é honesto e vacilão é quem confia na honestidade do próximo. A corrupção não está apenas na política. Na moral: são os vacilões e os otários dessas duas estórias que tem direito legítimo de dizer não à corrupção.
E você, de que lado está?
Comentários
Postar um comentário