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O difícil exercício de se colocar no lugar do outro.

Meu marido diz  que adoro ouvir a conversa dos outros. Não é bem assim; não fico ouvindo atrás das portas ou nas extensões dos telefones. É bem assim; não consigo deixar de ouvir as conversas quando estamos em locais públicos. Sempre dá pano pra manga.

Na semana passada, por exemplo, enquanto estava numa recepção da ala de consultórios do Hospital San Rafael, acabei ouvindo duas mulheres que estavam na fileira atrás de mim. Nessa tarde parece que muitos médicos atrasaram. Pelo menos estavam a minha e a delas - que não eram a mesma. Uma dessas mulheres reclama sem parar de que a médica - uma ginecologista - leva mais de meia hora no atendimento do paciente.

"_ Dá vontade de bater na porta...", diz.

Menos de um minutos depois ela dispara: " Dá vontade de ir embora, não vou mentir."

E o papo de críticas e lamentações prossegue enquanto o painel vai apitando e mudando os números das senhas, sempre na tônica de que cada consulta da tal médica é muito longa. Sinto vontade de olhar pra trás e perguntar se elas gostam dos médicos que fazem as consultas do tipo INSS (hoje SUS), que não levam nem cinco minutos e o paciente nem é examinado. Como nem sempre sou "abelhuda" e não estava disposta a ver um papo render, fiquei na minha e resolvi falar sobre isso aqui com vocês.

Segundo o censo de 2010 do IBGE, pelo menos 1,69 bilhão de pessoas se dizem cristãos (Católicos, evangélicos e espíritas, pelo menos) no Brasil. Acho que você sabe que o termo "cristão" se deu a quem seguia os ensinamentos de Jesus Cristo, né? Mas, porque será que a maioria não tenta seguir uma das orientações deixadas pelo líder Jesus Cristo, que está na Bíblia, que é "Amar o próximo como a si mesmo" ou trocado em miúdos, não deseje para o próximo o que não deseja para si mesmo.

No trânsito, é cada vez mais comum os motoristas que querem sempre passar na frente do “otário” que respeita o sinal, embora não dêem passagem pra ninguém quando estão na frente.


No banco, as pessoas pedem, descaradamente, para que um conhecido que está mais na frente na fila pague as suas contas ou façam o seu depósito; acham o máximo serem fantasmas da fila.

No médico, todo mundo quer ter um atendimento detalhado, com atenção e dedicação, mas reclama  se o médico está demorando um pouco mais com outro paciente, como no caso das mulheres da sala de espera.
Nesta e noutras situações cotidianas, as pessoas sempre agem de um jitó quando é consigo e de outro quando é com outro alguém.

Por que temos que dificultar tanto a vida? Por que não tentamos, pelo menos, nos colocar no lugar do outro? Acredito que assim teríamos menos conflitos no trânsito, nas filas de banco e nas recepções dos consultórios.

Do meu lado, procuro fazer a minha parte. Se o meu médico está com um paciente, não reclamo. Na minha vez gosto de tudo explicadinho e isso leva tempo. No banco, evito pedir favores a quem já está na fila. No trânsito, procuro respeitar as regras. Agora, se o pedido de passagem é pra dar “roubadinhas” em áreas de conversão proibida, não conte comigo. Se eu posso respeitar as regras, você também pode e deve.

Pelo que vemos, não é fácil se colocar no lugar do outro. Você tenta?
 

Comentários

  1. Até compro algumas brigas em determinadas ocasiões,principalmente quando se trata de injustiças,mas é quase impossível a gente se colocar no lugar dos outros, somos seres ainda muito egoístas e não estamos prontos ainda a sentir a dor do outro...de abrir mão pra o próximo, mas tenho procurado me policiar e melhorar.

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  2. É isso aí, minha irmã. Eu mesma não consigo sempre, mas vale a pena o exercício.

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