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Eficácia da metodologia dos Alcoolicos e Narcóticos Anônimos na berlinda

Certa vez, ao conversar com um adicto que passou 50 dias internado para tentar se livrar da dependência das drogas, ele me dissera que desistiu de ir para as reuniões do NA. Segundo ele, os encontros com o grupo os deixava sempre pra baixo, quando o que ele buscava era algo que lhe desse forças para continuar "limpo". O motivo: no grupo que frequentava havia poucos ou quase nenhum relato de alguém que conseguisse ficar muito tempo sem recair. Era comum, segundo ele, recaídas semanais. E ele preferiu caminhar só. Uma boa solução? Não, segundo John E. Burns, doutor em Administração de Programas de Tratamento de Dependência Química. Em sua opinião, o melhor para o pós tratamento é o grupo. É nele que está o poder.

John Burns, com quem conversei também sobre o tratamento de adolescentes, disse que apenas 30% dos dependentes que se submetem  a tratamento de 30 a 90 dias, alcançam uma recuperação. Mas que essa propabilidade  cresce para 60 a 80% quando o dependente químico participa de atividades em grupos posteriormente à internação por cerca de 2 anos. Isso se dá porque o grupo está sempre em fluxo: pessoalmente, emocionalmente e fisicamente.

Mas esse especialista admite que o modelo atual dos AAs e NAs está com data de validade vencida, vamos dizer assim. Burns disse que é grato ao AA, que muito o ajudou quando precisou, mas lamenta que eles tenham virado um culto rígido aos 12 passos. Por isso defende a necessidade de esses grupos modificarem suas metodologias, usando novas dinâmicas. Talvez aí esteja o sucesso, nos Estados Unidos, do Smart Recovery. Em sua opinião, é preciso entender que o tratamento da dependência química é uma arte e não uma ciência.

John E. Burns durante sua palestra no VI Simpósio de Alcoologia e outras drogas.
Em sua palestra Uma abordagem cognitivo comportamental: Smart Recovery, no VI Simpósio de Alcoologia e outras Drogas, promovido pelo Vila Serena Bahia, John Burns destacou que nos Estados Unidos centros de tratamento de curto prazo estão sendo substituídos por instituições de longo prazo que são financeiramente viáveis. Entre os modelos citou pensões, condomínios, escolas, empresas, igrejas, clubes recreativos e esportivos, cafés, clubes de livros e programas de rádio e televisão. Ele lembra que o tratamento em grupos tem a vantagem de não ter custo, ao contrário das internações curtas.

Em relação ao Brasil, Burns parabenizou o governo pela recente Resolução – RDC 29, de 30 de junho de 2011, editada pela Anvisa, que prevê no parágrafo único do Art. 1º , que “o principal instrumento terapêutico a ser utilizado para o tratamento das pessoas com transtornos decorrentes de uso, abuso ou dependência de substâncias psicoativas deverá ser a convivência entre os pares (...)”. Para ele, é o reconhecimento que o poder está no grupo e que este é o seu próprio terapeuta.

Mas isso não significa que assistentes sociais, psicólogos e terapeutas sejam dispensáveis. Tanto que Burns também elogiou a iniciativas de algumas empresas no Brasil que estão investindo em tratamento de dependência em grupos, com a supervisão desses profissionais, oferecendo chance de recuperação aos funcionários, em vez de demiti-los e criar um problema social.

Qual sua opinião sobre a metodologia dos NAs e AAs? Conte pra gente.

Comentários

  1. Oi vanda, minha família já precisou muito do NA por conta de um primo dependente químico. Não só ele, mas toda a minha família precisou de acompanhamento.
    Bom, em uma de suas recaídas ele veio a falecer e hoje em dia, passada a dor da perda e do impacto sobre a família, eu penso que foi bom porque finalmente ele e toda a minha família pode descansar.
    Só que não sei até em que medida posso responsabilizar o NA pelas recaídas de alguém se todo o tratamento se baseia na força interior e na vontade da pessoa. Não existe tratamento 100% seguro.
    veja só as pessoas que desejam apenas emagrecer. Quantas tem 100% de sucesso no tratamento? Quantas não voltam a engordar? Quem dirá um viciado, que está em uma sutuação muito mais complexa e de dependencia química.
    Mesmo com a morte do meu primo eu sou muito grata ao NA. Não sei se existem tratamentos melhores ou mais eficazes. Só sei que quando precisamos, foram os primeiros a nos acolher. E existe sim uma rede de apoio e acompanhamento, mas que é voluntário. O paciente não está obrigado aceitar aquelas pessoas em suas vidas.
    Beijos e te linkei! =*

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  2. Oi, Neanderthal. De fato, há uma rede de apoio para adictos em recuperação e para seus familiares. O que John Burns disse ( e que eu concordo), é que a metodologia deles ficou muito rígida, virou um culto. Frequentei por um período um grupo do Na-anon (de apoio aos familiares). É muito bom ´para o desabafo, por não haver a cobrança comum da sociedade. Mas confesso que, como o adicto que conversou comigo, não me sentia estimulada pelo grupo. Havia um conformismo muito grande e sentia que faltava neles atitude mais firme com os seus adictos. Era como se todos passassem a mão na cabeça deles, o que não é solução.

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  3. Com certeza, eu tbm não concordo com a visão de que o adicto é uma vítima da droga. Acho que isso alimenta muito um sentimento de autocomiseração. Ninguém nasce viciado e com tanta informação hoje em dia, ninguém se mete com esse tipo de coisa inocentemente. Todo mundo tem que aprender que usar drogas pela primeira vez é uma escolha e não adianta chorar quando não tiver mais se não for mais tão livre assim em suas decisões.
    Beijos

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  4. Pois é Vanda...dependência alcoólica ou química é muito perigosa não só pelo estrago que ela faz ao usuário e seus familiares e amigos, mas principalmente pelo fato de o usuário achar que consegue sozinho.

    Concordo que novos métodos devam se adotados, mas isso deve ser discutido diretamente com os próprios usuários, familiares e amigos...acredito que só assim se poderá encontrar uma solução para esse mal.

    Bjs,

    Duh

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  5. boa noite , esta realmente e a pior baboseira que ja li.
    sou adicto e estou me recuperando ha 2 anos.
    como questionar a eficacia de um programa que funciona desde 1953 e aua em mais de 160 paises ?
    apenas baseado na opiniao de um companheiro que estava arrumando uma justificativa para usar mais uma!!!
    alem de ressaltar que n.a ou a.a nao tem. diretor,presidente ou ninguem que governa ou dita as regras !
    ... desculpe temos sim um governante ....DEUS...

    realmente acho que nao somos tao eficientes! temos ainda muito ha melhorar.

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  6. Olá, Anônimo. Lamento que você não tenha lido o post com atenção. Se assim tivesse feito, teria entendido melhor. Não sou eu que estou fazendo o questionamento da metodologia utilizada pelos NAs; é John Burns, especialista em tratamento de depedência química. A citação da conversa com o adicto foi apenas para ilustrar. Muitos profissionais vem estudando formas de tratamento e o Smart Recovery, nos Estados Unidos, é o que tem obtido melhores resultados até então. Em nenhum momento foi dito, por mim ou por internautas que deixaram seus comentários, que esses grupos tenham diretoria. Sugiro que você leia de novo o post e se informe sobre o Smart Recovery. Força e firmeza na sua recuperação. Deus está ao seu lado,assim com está ao lado de todos nós, mas cada um tem que fazer a sua parte.

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  7. NA SÓ POR HOJE FUNCIONA... ESSA MÉDIA DE 30% DE RECUPERAÇÃO E PRA TUDO, SEGUNDO A OMS, DIABÉTICOS, OBESOS, DEP. QUÍMICOS ETC. QUE PROCURAM TRATAMENTO, EM MÉDIA SÓ 30% SE RECUPERAM, AQUELE QUE PARA SÓ, SEM TRATAMENTO (REMISSÃO ESPONTANEA)É APENAS 1%....

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  8. Luciana Félix
    Gente vejo da seguinte forma cada pessoa é diferente da outra assim como os métodos a serem trabalhados com dependência química também, o que funciona para mim talvez não funcione para você a única coisa que discordo nos 12 passos é a falta de pespectiva de vida,de não acreditar no futuro ter medo do mesmo.

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