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Viver entre tapas e beijos não é amar



Tenho o privilégio de ter um grupo de vizinhos que gosta de se reunir com frequência, não apenas para uma cerveja e para provar os dotes culinários de alguns, mas também para conversarmos sobre assuntos diversos.

Recentemente, conversei com uma delas sobre os relacionamentos dos nossos filhos com as namoradas deles. Parecia normal, para eles - que tem idade entre 23 e 26 anos - um namoro marcado pelo ciúme excessivo, pelas brigas diárias - presenciais, por telefone e virtuais . Minha vizinha disse:" é assim mesmo. Outro dia achei que eles estavam brigando, mas eles disseram que não, apesar de se tratarem com palavras ácidas, sarcasmo e até mesmo palavrões".

Eis que chega no local onde trabalho uma revista chamada Cidadania, da Fundação Bunge, em sua edição 54. Nunca tivera, até então, a oportunidade de ler nenhuma outra edição desta publicação, que aborda questões tão importantes para a sociedade. A matéria principal trata do tema da minha conversa com minhas vizinhas: a agressividade que marca os relacionamentos dos jovens.

Segundo a reportagem - Vamos discutir a relação? - nove entre 10 jovens já sofreram ou praticaram atos de violência contra o(a) parceiro(a). Esse foi o resultado da pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), coordenada pela pesquisadora Kathie Njaine, que ouviu 3.205 jovens entre 15 e 19 anos de 104 escolas públicas e privadas de 10 capitais brasileiras.

O resultado é preocupante e deve ser levado a sério por nós, adultos, que convivemos com jovens, sejam eles filhos, sobrinhos, alunos, estagiários ou qualquer que seja o tipo de relacionamento.

O mais impressionante é que, apesar de vivermos em um mundo machista, com um número cada vez maior de mulheres vítimas de violência doméstica, a pesquisa apontou que as jovens estão muito mais agressivas que os homens. Disseram ter praticado violência verbal contra o parceiro 33,3% das adolescentes, contra 22,6% dos rapazes. Em relação à violência física, 28,5% delas disseram ter agredido os namorados, enquanto apenas 16,8% dos namorados admitiram ter cometido contra as meninas.

E para quem pensa que apenas homens forçam carícias (na pesquisa considerada violência sexual), o resultado da pesquisa mostra que as garotas também estão jogando duro em suas relações: 49% dos jovens e 32,8% das garotas disseram já ter cometido esse tipo de violência.

Monica Amaral, pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), na reportagem, defende que a agressão pode ser uma forma de recuperar ativamente situações vividas de forma passiva durante a infância. Magdalena Ramos, terapeuta de casais, também vê influência da família nessa questão. Ela atribui o problema à falta de convivência entre a família: " A família mora sob o mesmo teto mas não se encontra".

Concordo com as especialistas que alertam para a necessidade de recuperação do diálogo entre jovens e adultos, com a retomada e fortalecimento do núcleo familiar, que é a base para tudo. Concordo, também, com a importância da participação da comunidade escolar nesse processo de recuperação da auto-estima do jovem e do conceito verdadeiro do amor.

Nós, adultos, precisamos dar o exemplo de que o amor é um sentimento para fazer bem, não para fazer sofrer. Que amar não significa que dois vão virar um, mas que serão duas pessoas, distintas, com objetivos e sentimentos em comum. Que o amor se fortalece com o respeito, com a confiança, com o companheirismo; mas que é destruído pelo ciúme, possessividade, agressividade, desrespeito.

Entretanto, muitos de nós, adultos, nunca experimentou - nunca se permitiu experimentar - um amor de verdade. Não apenas paixão, daquela que chega com apenas um tesão avassalador e que acaba tão rápido como veio. Muitos de nós também tem amado os filhos com superproteção, impedindo o seu amadurecimento psicológico.

Que tal confabular sobre isso? Como é seu jeito de amar? O amor lhe faz feliz? Traz paz e confiança em seu coração?

Comentários

  1. Vandinha, minha prima

    Muito interessante esse tema do amor entre os jovens. Já fiz logo um recorte mirando a cidadania. Sem esse papo de 'os jovens de hoje estão assim ou assado'. Os jovens sempre foram orientados pelos pais , das mais diversas maneiras, para serem vencedores. Acontece que os 'mecanismos' sociais é que estão cada vez mais frouxos. Me pergunto sempre, porque quando um candidato(a) a estágio é entrevistado não lhe perguntam coisas do tipo: "Como é sua famíla ?", "sua relação com seus irmãos?". Uma pergunta-chave: "Vc colabora em alguma coisa dentro de casa - serviços domésticos, assistência aos mais velhos, colaboração financeira e etc ?". Mas mnão, as empresas priorizam informações outras, como curso de inglês, colégio em que o jovem estudou e porraí vai. Qualquer gerentezinho de RH mais experiente pode saber hoje se o jovem ama, se é amado, sem tem amor por outras pessoas.
    O próprio mecanismo brutal da ascensão a fasta o jovem do amor. Digo sempre às patricinhas e mauricinhos que encontro : Cabeça não é só para usar chapinha, ou andar chapada !

    Bjs,
    ac

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  2. Também tem essa vertante da análisesim, amigo. A forma de amar indica muitas características. Certa vez, nos atrás, levei meu pai a uma médica homeopata, Dra. Josie. Meu pai estava com tremor acentuado nas mãos e já tinha feito avaliação neurológica que descartou - graças a Deus - o Mal de Parkinson. Participei com ele da "entrevista" e entre as perguntas estava "qua a forma de demonstrar amor?", "como demonstrava o ciúme?" e por aí vai. Achei muito legal. E o remédio indicado serviu direitinho.

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  3. Como compartilhei o tema na lista de discursões do Sinjorba, trnscrevo aqui a participação de Berna Farias:
    " Gente, que tema interessante! Eu não tinha visto o e-mail de Vandinha, mas vi agora o de Carmelito - e gostei do que li. É isso aí, Carmelito, mecanismos sociais frouxos e lá vem demagogia com uma lei (!?) proibindo palmada em casa, em um país onde as crianças são altamente vitimadas por maus-tratos cruéis por parte de pais, (ir)responsáveis, exploradores, e pela própria miséria, que as joga no abandono. Ora, palmada de pai e mãe dói muito menos do que os socos da vida...

    Voltando ao tema do amor, do respeito, que sugestão ótima a sua de entrevista, Carmelito. Fosse ela cumprida, já que o mercado de trabalho "é o rei", e pelo menos as pessoas pensariam mais sobre como são as suas vidas, independentemente do mundinho da competição.

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