Meu amigo Chico Muniz, jornalista como eu e também espirita, enviou-me dias atrás um link sobre uma polêmica que estava sendo travada entre uma defensora pública e seguidores de um blog que se posicionam contra o aborto e em defesa da vida. Tudo porque a defensora postara, em seu twiter, que tivera o prazer de entregar um alvará autorizando o aborto de um feto anencéfalo. E Muniz pediu que eu desse um parecer sobre o assunto.
Se esse pedido tivesse ocorrido há uns 15 anos atrás, certamente eu teria dito que era direito da mãe, sim, e que ninguém tem nada com isso. Mas, os anos passaram, amadureci, comecei a estudar a doutrina espírita e muitos conceitos que tinha desenvolvido na juventude, quando, inclusive, defendia o direito ao aborto, mudaram. Eu tinha muitas dúvidas de quando a vida começava, de fato. Dúvidas que foram sendo dissipadas com o estudo e com o passar do tempo.
Aprendi que todos temos direito à vida - ao reencarnar. E que muitas vezes o nosso tempo de vida, assim como a nossa condição física para viver, pode ter sidos definidos anteriormente, como desafios a serem vencidos. Com isso, passei a entender que mesmo um bebê anencéfalo tem um projeto de vida.
Segundo informações que encontrei no site http://www.anencephalie-info.org/ , "crianças com esse distúrbio nascem sem couro cabeludo, calota craniana, meninges, cérebro com seus hemisférios e cerebelo, embora normalmente tenham preservado o tronco cerebral. O tecido cerebral restante é protegido somente por uma fina membrana. A criança é cega, surda e não tem ou tem muito poucos reflexos. Cerca de 40% dos fetos anencefálicos morre intra-útero e 25% ao nascer. Aqueles que sobrevivem têm uma expectativa de vida de poucas horas, poucos dias e muito raramente poucos meses." Mas essa curta vida pode ser, inclusive, um processo de valorização da vida tanto para o espírito do bebê quanto para aqueles que o receberam como pais.
E quanto ao papel da Defensoria Pública nestes casos? Bem, fui assessora de Comunicação da Defensoria Pública da Bahia por quase três anos. E tive a oportunidade de ver que a instituição estava sendo cada vez mais procurada, em diversas partes do Estado, por gestantes de fetos anencéfalos que queriam interromper a gravidez. Lembro de pelo menos três casos, em curto espaço de tempo, onde os defensores públicos lograram sucesso nas suas defesas e conseguiram que a Justiça autorizasse o aborto.
Quando recebi a primeira informação e o pedido de divulgação,enfrentei um conflito interior. E agora? Divulgava só no site da Defensoria ou enviava a decisão da Justiça para a imprensa? Refleti, conversei com alguns colegas, debati com a defensora autora da ação e fiz minhas preces. Entendi que o livre arbítrio estava sendo exercitado pelos atores da questão: a mãe, o (a) defensor (a)público (a) e o(a) juiz(a). A mãe, demonstrava não estar preparada emocional e espiritualmente para levar até o final uma gravidez que não teria o resultado que ela sonhava. O representante da Defensoria Pública, que tem a missão de assegurar o acesso da Justiça àqueles que não podem pagar por advogados e o representante da Justiça cumpriam o seu papel constitucional.
Decidi publicar no site e sugerir uma pauta para um jornal e uma emissora de TV local (Salvador-BA). Queria que o tema fosse discutido com mais amplidão. Nenhum dos dois quis "comprar" a pauta. A Defensoria continuou - e deve continuar - sendo procurada por mães imaturas e assustadas com a gestação de anencéfalos.
Aprendi que não posso impedir que as coisas aconteçam. Pelo menos não condenando, agredindo verbal ou fisicamente quem tenha opinião oposta à minha. Posso apenas contribuir, com o esclarecimento ( assim como venho sendo esclarecida em muitos momentos), para que decisões que viabilizem a evolução individual possam ser tomadas. Se fosse comigo, provavelmente gostaria de levar a gravidez até o final, para que o espírito que acolhi pudesse completar a sua jornada e eu pudesse cumprir a minha missão. E se fosse você?
http://www.anencephalie-info.org/p/perguntas.php#9
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