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No dia dedicado aos pais, gostaria de ter falado sobre o meu - Sr. Nilton Cavalcante Amorim, alagoano, guerreiro, sempre acreditou que o trabalho é que dignifica o homem . Não o fiz. Faço-o agora, no dia do seu aniversário de 75 anos. "Seo" Nilton saiu aos 17 anos de uma roça na região de Palmeiras dos Índios, para tentar vencer na vida na então Forquilha, que virou Paulo Afonso, onde a CHESF estava contratando para a construção das hidroelétricas. Baixinho, franzino, loiro e de olhos azuis, ficou na ponta dos pés na hora da seleção, para parecer um pouquinho maior. Passou no teste de altura no meio da multidão.

De peão, trabalhador braçal, certamente por ser falante ( tal qual eu) e trabalhador dos bons, conseguiu alcançar outros postos. Foi auxiliar de telefonista, auxiliar de eletricista, eletricista, técnico de eletrônica. Fez os cursos técnicos de eletrônica e eletrotécnica por correspondência pelo Instituto Universal. Dedicação e disciplina sempre foram a sua marca como profissional.

Com quase todos os 11 filhos do casamento com dona Nicinha já nascidos seo Nilton voltou a estudar. Fez o Admissão, ginásio, colegial - administração e contabilidade. Sonhava com engenharia, mas o sonho ficou sem ser realizado. Não dava para se transferir para o Recife, em Pernambuco, para fazer faculdade, porque lá não teria como manter família tão grande. Cá, em Paulo Afonso, tinha a vantagem de casa, água, luz, escola e saúde de graça. Seu custo era alimentar, vestir e financiar remédios e livros para as nove meninas e dois meninos que ajudou a reencarnar.

Infelizmente, para dona Nicinha, a mesma paixão que ele tinha pelo trabalho - e até por ela mesmo -, tinha por mulheres em geral. Nunca pode ver um rabo de saia sem se deixar atrair. Isso trouxe Delma - sua atual mulher, com quem convive há 30 anos - e pôs fim a um casamento de 24 anos. Trouxe também mais seis filhos - cinco meninas e um menino. Dezessete filhos resultam da sua potência sexual. Pelo menos estes são os que conhecemos.

Depois de muita dor, muita mágoa, hoje pode ver seus filhos - quase todos - conscientes de que somos irmãos, permitindo-se um abraço fraterno, de amor. Abraço de perdão entre as duas mulheres que tanto sofreram por amar um homem que nunca conseguiu ser de uma mulher só.

A forma de cuidar de seo Nilton é a da posse. Sua forma de amar e dar carinho é a da retribuição: ganha mais afagos e respeito quem lhe dá carinho e não se intimida com seu jeito leonino de ser.

Hoje, a perda quase total da sua visão o deixa mais dependente de todos. Para um ser auto-suficiente, depender dos outros - mesmo que seja dos seus filhos - é sofrimento.

Mas o seo Nilton, mulherengo como muitos e muitos homens, sempre foi e é um pai responsável. Ao seu jeito, se fez presente - e se faz. Papai para alguns, painho para os mais novos, o meu pai é daqueles que entende que filho é para toda a vida e não pode ser abandonado nunca.

A ele, hoje, o meu amor e minha gratidão por tudo que me ensinou.

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