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Atropelando a vida




Quando da minha infância, no sertão de Paulo Afonso, o chamado para a criança ser matriculada nas escolas da CHESF só acontecia ao completar 7 anos. E foi nessa idade que fui cursar o pré-primário na Escola Adozindo Magalhães de Oliveira, embora já soubesse ler e escrever (tinha aprendido assistindo as aulas particulares que a vizinha, Leda Henrique, dava para meus irmãos maiores e outros meninos e meninas da Rua L). Surgiu a oportunidade de fazer um teste para "pular" para a 1ª série. Dois colegas fizeram e passaram. Eu quis fazer e meu pai não deixou: achou que eu seria prejudicada por pular uma etapa. Na época fiquei muito frustrada. Eu tinha certeza que sabia ler e escrever muito bem. Hoje, passados 38 anos, sou grata ao meu pai. Não pulei etapas, convivi com crianças da minha faixa etária, fiz amizades que prosseguem até hoje, e tive a oportunidade de apreender - porque já tinha aprendido - o be-a-bá com as professora Aparecida,Elisa, Marlene...


Quando meu filho-emprestado, Cacá, tinha 13 anos, foi estudar no Colégio PHD, na Pituba. Só no final da segunda unidade descobrimos que a sua turma era composta, quase metade, de alunos repetentes da faixa etária de 17-18. Como eu, muitas outras mães protestaram, porque as experiências e comportamentos dos "ganzelões" estavam influenciando negativamente nos pré-adolescentes, principalmente no que dizia respeito ao fumar e ao beber.


Volto ao passado para falar sobre o caso do garoto de Goiania, João Victor Portellinha, de 8 anos, cujos pais o inscreveram em um vestibular e agora querem que sua matrícula seja efetivada no curso de Direito da Universidade Paulista (Unip). Com todo o radicalismo a que sou capaz ( infelizmente muitas vezes, ainda), considero uma insanidade desses pais - ou melhor, da mãe, afinal o pai prefere não se pronunciar, conforme reportagem publicada hoje no Jornal A Tarde, pág. 18. Primeiro, porque João só tem 8 anos e, como disse o presidente da seccional de Goiás da OAB, " ele não tem maturidade". Claro que nas salas das faculdades tem um monte de jovens sem maturidade também, mas todos já estão com pelo menos oito anos de vida e experiência além do João.


Segundo: todos sabem que o MEC exige que o candidato tenha cursado - e tenha sido aprovado - no Ensino Médio ( ex-colegial,ex-científico, ex-2º grau). João ainda está na 5ª série do Ensino Fundamental. Dizem as reportagens que o sonho de João Victor é ser juiz federal. Caso a Justiça passe por cima das regras estabelecidas, como tem acontecido em outras situações, e o garoto consiga passar em todos os concursos, chegará ao cargo pretendido antes dos 18 anos. Questiono: apesar de inteligente, ele terá a tal maturidade necessária para ser juiz?


Terceiro: se existem regras, elas devem ser seguidas, pois não?


A mãe bem que poderia deixar a vaidade de ter um filho tão inteligente um pouquinho de lado e deixar o bom senso comandar suas ações. Desejos e birras de crianças são contornáveis. Não devemos, isto sim, é atropelar as etapas da vida, sob risco de consequências imprevisíveis.

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