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Ética no jornalismo



Já confabulei com vocês, em outra ocasião, sobre a ética e a moral na política. Hoje quero trocar umas idéias sobre a ética e a responsabilidade no jornalismo. Como vocês sabem, sou jornalista por profissão, com pouco mais de 20 anos de estrada. Confesso que, nos últimos anos, tenho ficado assustada com os rumos que o jornalismo - ou a imprensa, ou a mídia - vem tomando.

Na sede de informar, o jornalismo tem colocado a vida de pessoas em risco sem o menor constrangimento por parte do repórter, editor e dono do veículo de comunicação. Começamos pelas reportagens do cotidiano, puxando para a área de segurança: se um novo mecanismo de segurança é implantado em ônibus, por exemplo, os repórteres, com suas canetas ou suas câmeras, esmiúçam os detalhes e dão as dicas de localização de tudo para a sociedade. Todos os detalhes, inclusive os que colocam em risco a vida de cobradores e motoristas.

Sobre o jornalismo praticado pelas revistas semanais nacionais, então, nem se fala. Lembro-me que na segunda semana de setembro, ao ler na Veja a matéria com Bruno Lins - aquele que entregou Renan Calheiros e o ex-sogro Luiz Coelho -, fiquei estupefata. Ao falar sobre como Coelho guardava dinheiro, Diogo Escosteguy, que assina a matéria, não apenas descreve a mansão, mas também a cor, formato e localização do cofre dentro da casa. Nas entrelinhas li assim: " atenção, ladrões, esse cara guarda muito dinheiro dentro de casa e o roteiro é esse. Peguem-no." Um crime compensa o outro? Essa forma de fazer jornalismo é ética? É responsável? Acrescenta o quê à sociedade?

Fiquei indignada, ainda, ao ler matéria do A Tarde, na semana passada, quando uma manchete dizia que uma creche era usada como ponto de droga. No conteúdo na reportagem confiro que a creche, na verdade, já estava desativada há pelo menos cinco meses. Não era, portanto, uma creche, mas uma casa que já abrigou uma creche. Mas, para não perder o impacto sensacionalista, o repórter citou o nome da creche - como se estivesse ativa - e foi corroborado pelo redator no título e na chamada da matéria. Qual o objetivo disso? O que a tal creche que funcionava ali meses atrás tinha com o fato de a casa, que estava vazia, ser utilizada como ponto de uso de drogas? Por que colocar esse estigma sobre uma instituição? Mas uma vez pergunto: é ético esse tipo de jornalismo? É responsável? Acrescenta o quê à sociedade?

O jornalismo tem perdido um dos seus estilos - o principal- que é o que narra e descreve os fatos. Hoje, até os focas deixam de reportar os fatos para emitirem opinião; muitas vezes em textos compostos por escassos vocabulário e conteúdo.

Depois dizem que querem calar a imprensa, que todos têm direito à livre opinião, que isso, que aquilo. E a imprensa - e nós, jornalistas,mesmo os assessores de imprensa - não tem satisfação a dar à sociedade por sua falta de ética e responsabilidade? Por esses e outros motivos quero o conselho de jornalismo. Urgente.

Comentários

  1. Prezada Vanda

    Gostei muito de ler a sua mensagem postada no grupo sobre a questão da ética. Sobre o assunto faço alguns adendos. O problema não é a ética desta ou daquela profissão, até porque a ética ela é humana, apropriação do ser e não de setores de atividades. Como bem disse nosso colega Cláudio Abramo, “sou jornalista, mas gosto de marcenaria, e a minha ética como jornalista é a mesma como marceneiro”. Logo, a nossa questão é que há muito o homem (espécie) deixou de ser ético. Esqueceu os princípios da moral, os valores da integridade, do caráter. O homem contemporâneo está doente e nos países do Terceiro Mundo está pior ainda. Pois aqui os problemas são mais graves e logicamente as doenças também. Lamentável tudo isto, principalmente porque entramos em um caminho sem volta. Como ensinar nossos filhos a serem honestos se na vida pública não há parâmetros. Como dizer a nossos filhos que acusar indevidamente, matar, não são coisas certas se os jornais contribuem para mostrar o contrário. Aí você cita o jornal A TARDE. Há muito tempo Vanda que aquilo deixou de ser jornal. Claro que sabemos temos alguns bons colegas, conscientes, ali. Mas a maioria não tem capacitação para exercer a função. Sabe por quê? Porque falta conteúdo. Falta empenho. Falta ética. Porque não é ético fazer um trabalho capenga sob a justificativa de que o que ganha não dá para fazer melhor. Falta qualificação humana. Falta jornalismo com seriedade, compromisso, não ético somente, mas com a história, da qual, desde o advento da imprensa, nós passamos a ser narradores e escritores. Lamentável. Por isso, parabéns pelo seu texto. Porque da sua indignação compartilho eu.

    Grande abraço

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  2. Tens razão, Derval. A crise ética é geral, assim como a moral. Mas, enquanto indivíduo, tenho procurado transmitir a quem está ao meu lado que os princípios éticos e morais valem a pena, mesmo com a degradação ao nosso redor. Cada vez mais me valho de uma máxima cristã: amar o próximo como a ti mesmo, ou seja, tento não fazer a alguém o que não gostaria que fosse feito a mim. O problema maior talvez seja, então, a falta do amor próprio em grande parte da humanidade. Será?
    Um abraço.

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  3. Falar de ética remete à conduta humana, ou seja praticar atitudes em prol de mudanças boas ou más.
    No caso do jornalismo, analiso essa questão da seguinte forma: "se a imprensa sempre buscou a liberdade de expressão, e sempre reclamou da censura, por que atualmente ela age completamente ao contrário?"
    Eu sou uma foca, e lembro-me que uma vez um professor de faculdade me disse que "nós jornalistas deveríamos onfelizmente fazer parte do sistema, mesmo se o sistema não fosse ético com suas informações"...me sinto desconfortada em dizer isso!
    Abraços e Sucesso!

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  4. Eu concordo com você, Monique. Sinto-me também constrangida. E discordo desse professor. Não temos que fazer parte do sistema. Não temos que dizer amém a tudo. O discernimento que nos foi permitido é para que possamos observar tudo e ter a sabedoria e a coragem de optar pelo caminho correto, ético. Esse caminho, evidentemente, nem sempre é o mais tranquilo, mas com certeza nos deixa encostar a cabeça no travesseiro e dormir tranquilos.

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  5. Cara Vanda Amorim,

    Eu, Kiko Nascimento, quero convidá-la a participar de um projeto de discussões sobre a nossa cidade. o Salvador em Foco.

    É o Salvador em foco. Um fórum de discussões sobre Salvador onde não relatamos só problemas. Como dicas de lazer, e tudo que Salvador nos oferece.

    Dê uma conferida lá: http://salvadoremfoco.ning.com e participe.

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