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São Francisco é a inspiração para me livrar de mágoas

Será que somos capazes, mesmo, de fazer exatamente o que pede São Francisco de Assis em sua prece? Você não conhece? Talvez pense que não, mas acho que conhece. Ela diz assim:

"Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz. Onde houver ódio que eu leve o amor. Onde houver ofensa, que eu leve o perdão. Onde houver discórdia, que eu leve a união. Onde houver dúvida, que eu leve a fé..."


Sempre achei, no alto da minha presunção, vaidade e orgulho, que eu era, sim, capaz de ser parte dessa oração. Sei, e quem está ao meu redor sabe, que realmente procurei, durante anos, levar amor onde havia ódio, perdoar ofensas, buscar a união e alimentar a fé. Assim fiz para a construção da minha família com o meu amor. Também o fiz para a reconstrução e harmonia da grande família construída por meu pai.


Fiz isso por quase uma década, inspirada pelo exemplo de amor e perdão dado por minha mãe. Procurei me aproximar e trazer juntos quase todos, com carinho e atenção. Mas alguma coisa não fiz direito. mesmo pedindo e procurando fazer o que diz ainda São Francisco:

"Onde houver erro, que eu leve a verdade. Onde houver desespero, que eu leve a esperança. Onde houver tristeza, que eu leve a alegria. Onde houver trevas, que eu leve a luz."

Com a passagem da minha mãe ao outro lado do caminho, em agosto de 2014, algo se quebrou. Não sei se em mim ou se em cada um dos que fazem parte da grande família do meu pai. Tal qual o vento, muitas palavras foram ditas, ouvidas e interpretadas de formas diferentes por cada um. Muitas ações atingiram diferentemente um a um, deixando marcas indesejadas

Tranquei lágrimas. Contive palavras. Silenciei. E aí tive que confessar a mim mesma que eu era fraca. Ou seria frágil a palavra correta? Deixei a tristeza e a mágoa ocupar um espaço em meu coração. Mas busquei vencer. A saudade era maior. Lamentavelmente, nada mais estava como antes. Nem mesmo conseguia mais falar com meu pai todos os dias, ou ao menos em qualquer dia que eu quisesse ouvir a voz dele. Seu celular estava sempre desligado. Ele não sabia. Estava literalmente cego.

Eu continuei fingindo que estava tudo bem.Que não alimentaria sentimentos negativos. O bate-papo virou semanal, aos sábados. E era o melhor momento da semana para mim. Até que foi interrompido em junho deste ano (2017), pois papai precisou seguir para o outro lado do caminho. Mais lágrimas, mais saudade, mais silêncio.

Quarta-feira, 4 de outubro, foi comemorado o Dia de São Francisco de Assis. Um santo íntimo, digamos assim, pois foi em sua novena que comecei a namorar Roberto, um bocado de anos atrás. Mas também foi o dia que marcou quatro meses da despedida de papai. Lembrei dos dois e fiquei muito triste. De saudade e pela constatação que ainda sentia martelar no peito uma mágoa que não gosto de sentir.

No caminho de casa, dirigindo, não liguei para nenhum dos muitos irmãos, como sempre faço. Nem mesmo para uma amiga querida que digo ser uma filha de outra encarnação. Preferi cantar a oração de São Francisco para me encontrar e me fortalecer. Disse com força para tornar verdade dentro de mim a última parte da oração:

"Ó Mestre, Fazei que eu procure mais, consolar, que ser consolado; compreender, que ser compreendido; amar, que ser amado. Pois é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado, e é morrendo que se vive para a vida eterna".

Em casa, também nada conversei com meu amor. Só eu e Deus. Estava envergonhada de ainda ter esse sentimento dentro de mim.

Antes do dia 4 acabar, recebi a mensagem de que a vida prossegue e que cada dia é a esperança de novos tempos, que deve prevalecer o amor e a luz. Sabe como? Antes de desconectar o celular sempre olho as mensagens da minha família. Pouco faltava para a meia-noite e quando vi que uma nova vida se concretizou na família.

Havia nascido, logo depois das 22 horas, a pequena Beatriz, minha sobrinha-neta, filha de @Vanessa Patrício Amorim. A segunda Beatriz na família. E a segunda a nascer no dia de São Francisco, compartilhando aniversário com a tia @Vany, minha sobrinha. Pedi perdão a Deus e dormi mais leve.

Vou continuar tendo essa oração como inspiração, embora saiba que a caminhada é longa. Só não precisa ser muito longa. Vou tentar de novo. Vou fazer a parte que me cabe. Sei que conseguirei, em breve, dizer "Xô, mágoa! Você não me pertence!"

E você? Consegue seguir alguma parte da Oração de São Francisco (de Assis)? Fique à vontade para contar.




Comentários

  1. Minha irmã Vanda Amorim está oração é perfeita. E dado que se recebe . Saudades de vocês. Beijos no seu coração.

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  2. Ouwnnnnn minha irmã, mais uma escrita que me identifiquei!
    Infelizmente as mágoas cresceram, e o que eu achava que seria fácil extinguir de minha vida, acredito precisar de mais algumas encarnações para digerir!
    Nunca havia sentido ódio por nada nem por ninguém,mas o que vivi nos últimos momentos do meu pai e pouco depois do falecimento,me fizeram experimentar esse triste sentimento!
    Oro a Deus todos os dias, pra limpar meu coração, mas ate aqui não tenho conseguido!

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    Respostas
    1. Vamos continuar exercitando a prece. Juntos, todos nós, conseguiremos.

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  3. Seus textos são sempre incríveis. Uma sensibilidade ímpar! ������

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  4. Maria Aparecida Amorim7 de outubro de 2017 às 13:19

    Está em prece é está se alimentando dos caminhos de Deus, isso nos serenisa. Vamos encher nossos corações de bons pensamentos e boas atitudes, é isso que Deus nos ensina.

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  5. Verdade, a oração de São Francisco é muito linda, sei que é muito difícil, mais não impossível sermos e agirmos como ele nos propõe, pois sei que não devemos deixar o ódio e o rancor contaminar nosso coração e principalmente nossa vida. Vale a pena reavaliar tudo isso.

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