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violência policial



"Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem; pisam as flores, matam nosso cão,e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. já não podemos dizer nada."


Este texto, atribuído a Bertolt Brecht e Vladimir Maiakóvski mas que na verdade seria do carioca poeta carioca Eduardo Alves da Costa ( segundo polêmica na internet), é sempre atual. Resolvi usá-lo para confabularmos sobre a violência... desta vez a violência policial.

Ontem, ao retornar para casa depois de mais um dia de trabalho, ouvia a Rádio Metrópole quando uma ouvinte ligou denunciando a truculência da abordagem feita por policiais a um rapaz que estava dentro do carro, defronte a uma agência bancária, enquanto aguardava sua mulher. Como não ouvi a estória do começo, não sei se ele era filho ou genro da ouvinte; era alguém vinculado à sua família. A mulher contou que a polícia chegou gritando, chamando-o de descarado, mandando que ele saísse do carro, colocou arma na sua cabeça e tudo o que sabemos que tem sido feito.

Que ligação isso tem com o extrato do poema acima? A nossa permissão. Tenho ouvido, rotineiramente, até por parte de alguns dos meus familiares, que a polícia tem " que matar mesmo. Bandido é pra morrer". Nunca concordei com isso e não seria agora que concordaria. Começamos permitindo que faça isso com os outros, até que a porrada atinja um dos nossos. "Aí não pode, é sacanagem, é violência demais", todos reagem. Mas é uma violência que foi permitida, autorizada, estimulada... querer que mude, depois que muitos policiais encontraram a forma de dar vazão aos seus instintos e às suas insatisfações, é mais difícil.

Além disso, permitir que a violência seja combatida exclusivamente com violência em nada ajuda. Só contribui para intensificar o círculo de ações e reações. Um mata daqui; outro mata dali.

Temos que ficar mais atentos aos nossos jardins; que ter coragem de dar limites aos nossos filhos desde crianças; parar de sofrer ao ter que dizer um não... quando não o fazemos, a vida faz. E um dos bandidos que queremos morto pela polícia, de repente pode ser sangue do nosso sangue ou ocupar simplemente um lugar em nosso coração. E aí? Como será?

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