Podemos fazer justiça com as próprias mãos? E a polícia, pode?
No domingo, 16/03, presenciei um fato perigoso e lamentável que me fez questionar até onde a polícia, aliás, os policiais baianos - assim como provavelmente em todo o Brasil, estão preparados para cumprir a sua função. De acordo com Constituição do Estado, compete à Polícia Militar a execução, com exclusividade, do policiamento ostensivo fardado com vistas à preservação da Ordem Pública. Sua ação é tipicamente preventiva, ou seja, atua no sentido de evitar que ocorra o delito. O que vi destoa dessa descrição.
Por volta das 14h40 do domingo, no Hospital Geral do Estado, vi chegar uma viatura policial , dessas utilizadas pelas patrulhas de rondas especiais, com dois policiais na boléia e outros dois parte externa do veículo, junto a um prisioneiro. Magro, moreno claro, tinha sangue escorrendo pela cabeça. Quando o carro parou diante da portaria, um grupo de oito a 10 homens, policiais em trajes civis, praticamente " voaram" para cima, com o objetivo de matar o prisioneiro. Cumprindo seu papel, um dos que estavam na viatura chegou a sacar da arma contra os colegas da corporação para garantir que ninguém tocaria no prisioneiro.
A confusão foi generalizada. Muitos dos cidadãos que estavam na área, naquele momento, como eu, optaram por se afastar um pouco do local, com medo de bala perdida. O coronel Legsamon Mustafa, do Serviço de Valorização Profissional da PM (Sevap), que estava no HGE naquele momento, precisou gritar forte e sacudir sobre os justiceiros as muletas que usava. Depois de 15 a 20 minutos, os policiais fardados conseguiram adentrar o hospital com o prisioneiro.
Soube depois, pela minha irmã que estava lá dentro, que a confusão prosseguiu no interior do hospital: médicos, enfermeiros , acompanhantes de pacientes e os próprios pacientes ficaram nervosos e tentaram se esconder com medo de tiros também lá dentro.
Conversando com um e com outro do lado de fora, descobri que o grupo de justiceiros queria vingar a morte do policial Cidarta, assassinado no Vale das Pedrinhas. Cheguei a ouvir uma conversa: um policial fardado pedia desculpas ao outro sem farda, por ter impedido a execução. " Estamos em operação, não pudemos fazer nada. "
A minha confabulação é sobre isto. Onde está a responsabilidade dos policiais militares, que estavam dispostos a executar alguém diante de tantas pessoas, a trocar tiros em um local onde as pessoas buscam assistência? Imagino a dor desse grupo, assim como dos familiares, de ter perdido um amigo na guerra contra o crime. Mas isso não os libera para fazer justiça com as próprias mãos. Se cada cidadão segue o exemplo e mata aquele que roubou, estuprou ou matou alguém que queira bem, teremos uma guerra de fato.
Minha sugestão é que o comando da Polícia Militar pense e execute, urgente, um trabalho de humanização dos policiais. Sei que não se pode tratar bandidos com carinho e afago; mas acho perigoso quando a polícia passa a agir igual àqueles a quem combate.
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